Eu, absoluta, linda, divina e soberana imperatriz deste mundo

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Noooooossa, que racismo

Muitos milhões de anos que não posto aqui. Esse é apenas mais um daqueles textos que ninguém vai ler nem se importar, mas se postasse no facebook ganharia uma meia duzia de likes, um ou dois comentários e ainda teria que me policiar para não escrever grande demais e entediar a todos. Aqui posso escrever o quanto quiser.

Assisti ontem Jurassic Park World. Segundo minhas contas, acho que faz mais ou menos um ano que não ponho meus pés em um cinema e definitivamente não me arrependo. Nem sei se devo mais me considerar uma cinéfila como com tanto orgulho costumava dizer em meados de minha adolescencia e até meus vinte e dois anos. Quanta coisa mudou desde a época em que eu roubava as economias de papai (sorry dad) ou gastava toda minha mesada comprando a revista Set e Sci-Fi para saber em detalhes sobre o andamento das superproduções, criticas de filmes, notícias sobre minhas séries preferidas e matérias exclusivas sobre algum ator (ou atriz) que era meu crush (sdds Elijah Wood, Jonathan Taylor Thomas, Daniel Radcliffe e afins). Eu podia me gabar por conhecer todos os filmes em cartaz - porque tinha visto a maioria deles -, saber a filmografia dos grandes atores de Hollywood e tinha até meus preferidos para levar o Oscar.

Hoje em dia se me perguntarem quem levou a estatueta esse ano, farei cara de paisagem. Se no começo dos anos 2000 eu sabia cantar a música principal de todos os premiados, e até hoje fico inconformada de terem escalado o pretensioso Antonio Bandeiras para cantar e arruinar a canção Al Otro Lado Del Rio ao invés de deixar o divinoso Jorge Drexler fazer seu trabalho, a verdade é que nos tempos atuais eu estou pouco me lixando para o cinema Hollywoodiano e suas musicas. Às vezes me pergunto se de fato a qualidade da sétima arte caiu ou se quando adolescente eu tinha um péssimo senso critico e aceitava qualquer porcaria. O que também me faz pensar se, na real, eu que sou de fato uma velha reclamona e nostálgica impossível de se agradar e o cinema vai muito bem, obrigada, quiça melhor do que antes. Porém, divago.

Esse post, no entanto, não é por causa de Jurassic World. Apesar de o filme ser majoritariamente branco, o único negro só está lá para cumprir uma cota sem ter nenhuma relevância na trama e um ator ser orientado a forçar um sotaque para que o publico reconheça suas origens indianas (pelo visto o diretor achou que o publico seria burro demais para perceber isso apenas olhando para o cidadão), nada disso é, digamos, errado. Talvez incomode minorias e gente chata - como eu - mas o grande publico, que paga mais de vinte reais para ir ao cinema, e que de fato garante os lucros da industria, está muito bem representado com seu elenco de brancos, altos, esbeltos, belos e, falando especificamente do Chris Prat, gostosos; é este publico que importa. Tem as exceções, mas ninguém liga para elas. Que se lasquem.

O filme é legal. Não fiquei noooossa a maior parte do tempo, algumas coisas no roteiro e no cenário me frustraram, mas é sempre uma delicia ver a natureza dando uma sova na humanidade. Fiquei do lado da miga I-Rex até (spoiler) ela massacrar a família do Little Foot :'( . Não deu mais pra defende-la especialmente quando (spoiler master) invocaram o mais lindo de todos os lindos da lindolândia T-Rex para colocar ordem naquela quizumba.

Mas, de novo, meu mimimi não é sobre Jurassic World. Segue abaixo o motivo disso tudo:

 
Pois é. É claro que eu como boa chata tinha que implicar com essa escalação. São coisas assim que me expulsam a ponta pés do cinema Hollywoodiano. Esse cinema plastico, elitista e, acima de tudo, controverso. Depois de reclamar por meia hora - talvez mais - a respeito do embranquecimento da princesa Tigrinha (originalmente índia de pele escura), resolvi pesquisar sobre isso apenas para saber se sou a unica chata nesse mundo.

Descobri que na época da escalação muitos se indignaram, fizeram manifestos, abaixo assinado (gente, para de acreditar nisso! Abaixo assinado nunca resolveu nada) textões mil, mas como nada mudou, todos se conformaram e agora estamos aí, com uma loira, branca, de olhinhos claros, se apropriando de uma cultura que não lhe pertence só para agradar o grande publico pagante.

Aí muitos vão dizer "Eike saco! Também não pode mais colocar uma branca num papel de india que todo mundo noooossa. Povo moralista. Politicamente correto. Deixa o Peter Pan em paz. Mimimi", ora, colocaram um tapa olho em um negro, chamaram ele de Nick Fury e na época todos reclamaram, mas o verdadeiro Nick é só um agente, não representa etnia alguma e, mesmo que representasse, não é um detalhe relevante. Até hoje a brancada reclama de colocarem um negro pra ser o Tocha Humana num rebut desnecessário, de um quadrinho que ninguém liga, sobre um quarteto que chatastico. E, de novo, esse Tocha não representa uma etnia branca; ele é só um americano aleatório em um país onde, meu Deus do Céu, habitam brancos e negros. Mas mesmo assim todos protestam ao ponto do próprio ator ter de se manifestar a respeito e ainda usam como argumento a máxima de que "O Publico nerd é muito exigente". Ah, gente.

Acho muito interessante que quando colocam um negrinho pra fazer papel de branquinho é um nooooossa que dura temporadas e sempre começando com "Noooossa, não sou racista, mas...". Mas quando os papeis de invertem e colocam um branquinho para fazer o papel de uma determinada etnia cuja raça relevante, não pode fazer um noooossinha que somos tachados de chatos, reclamões, mimizentos e, cedo ou tarde, somos silenciados. Honestamente porque estar em pleno 2015 e lutar por integração racial cansa tanto quanto falar de sexismo e discriminação por orientação sexual e identidade de gênero. A Warner na época ainda diz que pensaram em chamar a Lupita Nyonog'o para o papel, mas não deu. Legal, Warner, só que ela é negra, de descencência africana e não indígena. É o mesmo que colocar um brasileiro para interpretar um mexicano, um coreano para interpretar um japonês ou um bissexual cisgênero para interpretar uma transsexual. Opa, espere. Eles já fazem isso e cadê que muda?

Aí a Lily Allen diz que é um absurdo existir feminismo hoje em dia e as feministas radicais piram. Antes de entender que é mesmo um absurdo termos que bater na mesma tecla que nossos avós bateram exaustivamente lá nos anos 60/70. É chato se deparar com um poster desses, de um filme que já deu o que tinha que dar, apelando pra uma polemica tão covarde - nada me tira da cabeça que essa escalação foi proposital, pois tal atitude é típica da Warner - atirando marketing para todos os lados; é chato assistir séries infestadas de gente jovem, plastica, branca, malhada, com tramas rasas, apelativas e personagens insossos - dadas as devidas exceções; é chato ver a mesma Disney que produziu O Rei Leão, Pocahontas, Mulan e Pular, errando rude e enchendo o saco com o marketing massivo em cima de coisas como Let It Go e seus abraços quentinhozzzzzz, enquanto A Princesa e o Sapo segue lá, flop e reprisando loucamente no Disney Channel quando precisam cobrir alguma sobra na programação; e o que dizer das intermináveis discussões feministas, em pleno século XXI, atreladas aos filmes de heróis e seus machismozinhos? Mais de quarenta anos se passaram, e o que mudou foi: nada.

Eu confesso que fiquei chateada de saber que ninguém tem falado nada sobre esse filme do Peter Pan, falaram na época do anuncio, hoje não mais (pode conferir no Google, as matérias são todas antigas), mas entendo o silêncio. Essa luta cansa. Falar com as paredes cansa e até ser chato cansa. Vai ver é por isso que os revolucionários do século passado morreram jovens e os que estão vivos não ligam mais para nada. Coisa chata é ver esse ciclo sem fim.

E sabe o que é mais engraçadinho? Tudo bem colocar uma branca para fazer uma índia nativa. Tá tranquilo. Agora colocar um negro para ser um deus nórdico não pode! É vandalismo!
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Pior que é mesmo. Nos dois casos.  

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